quarta-feira, dezembro 20, 2006


Querido Amigo,


Agora estou pensando no que lhe escrever. Há duas horas atrás estava eu em uma festa. Festa com música, boas companhias, comida boa e farta. Pessoas interessantes. Pessoas nem tão interessantes, se bem que estou pensando sob que ótica é o "interessante" e percebo que é impublicável. Então, até duas horas atrás estava em uma festa e agora lembro de Clarice quando escreve que a busca do prazer nessas situações de festa são ilusórias. Confesso que depois, quando a minha preguiça pós-festa passar, eu vejo melhor o texto pois acho que estou deturpando a Clarice e não quero que ela se revire no túmulo. Se bem que Clarice faz mais o estilo de quem riria com um sarcasmo bem autêntico a uma interpretação errônea de seus escritos. É, não podemos deixar de lembra que, escritos são para o mundo. E o mundo faz o que quiser do que é de posse dele.
Então, estou dando voltas só pra dizer que há duas horas estava em uma festa e agora estou no meu quarto, meu (hoje) doce quarto com uma insônia que me faz morrer de sono mas que não me deixa dormir. Foi então que resolvi te escrever. Não que você me dê sono... mas...pensando bem... a perspectiva de te escrever, ou melhor, te escrever foi o único recurso que percebi que poderia me fazer dormir e bem.
Já enchi uma página de carta e ainda não disse a que vim, talvez esteja enrolando, mas também pode ser que eu não tenha nada a dizer. Me sinto quase sempre orbigada não só a dizer como também, a dizer as coisas "certas nos momentos certos". Quero me desobrigar dessa função. Pesa. Quanta prepotência me pré-ocupar com isso. Agora mesmo quero te escrever assuntos interessantes, coisas importantes e não estou escrevendo nada...ops...estou sim: escrevendo palavras. E palavras que se unem perdem o seu significado unitário para dar um sentido à união. Como deve ser difícil para algumas palavras que, soltas, livres, possuem significados marcantes, indivizíveis, imponentes, inconstestáveis, e que, ao se unir à uma frase, seu sentido é questionado, perde a força, mesmo cumprindo sua utilidade maios, se perdem nas águas da união para formar frases que muitas vezes não são do seu tamanho único.
Como seria nossa comunicação se só existissem palavras soltas? Se as palavras se recusassem a se unir em prol das frases? Sem verbos de ligação, sem união espacial e temporal...coisas como do tipo: de que cada um só poderia dizer uma palavra a cada três minutos, para que, temporalmente, elas não pudessem formar frases.
Quanto silêncio haveria em cada conversar. E ao mesmo tempo quanto sentido cada palavra. E agora esou no silêncio. Como será que eu me comportaria diante de você se eu tivesse que ficar a cada uma palavra, três minutos de silêncio? Será que te olharia mais e por inteiro? Será que baixaria os olhos de vergonha e disfarçaria olhando o relógio para marcar o tempo? Será que eu pensaria na próxima palavra? Ou será que a cada dez segundos mudaria a próxima palavra? Será que o tempo em silêncio me faria mudar de idéia? Beckett dizia já: o que eu falaria se eu tivesse voz? Eu pergunto: o que eu falaria se eu só tivesse uma palavra a dizer após o silêncio?
O que é o silêncio? Ele existe?
Está dando certo. Ao mesmo tempo que estou com vontade de mudar o rumo desta missiva. estou com um sono de fechar os olhos. Às vezes funciona igual a contagem de dores de parto: uma contração à cada dez minutos. No meu caso, estou fechando os olhos a cada dois minutos. Ainda não dá para parar de te escrevre. Ainda lerás o que está na minha mente e que coloca holofote no meu sono e palavras e que ainda não me deixam dormir. Preciso fechar os olhos a cada segundo e ainda mais, como numa contração demorada, fechá-los e premanecer com eles fechados por mais tempo que eu levaria para fechá-los novamente.
Será que é um parto? O que vai nascre quando eu fechar os olhos?
Engraçado, terceira folha de carta. Dei agora para contar quantas folhas escrevo, uma espécie de vaidade...esquisita...eu sei. Mas algo soa grandioso: ah!!! Hoje escrevi umas cinco páginas para um amigo. Parece-me de uma importância... Vaidade, pura vaidade, que não vai me servir de nada para dormir, só para me criticar. A não ser que eu começasse a tomar calmantes para garantir oito horas de sono diárias para restaurar a beleza da minha cútis, como manda os figurinos de "beleza". Mas isso ainda (será que algum dia?) não é do meu departamento de desejos.
Deitei a cabeça agora, acho que vou me despedindo. Despedidas de carta são legais......
Ih!!! Fechei os olhos por um bom tempo. É melhor me despedir. Parafraseando Clarice: bom dia meus amigos, o sonho vai nascer!!!
Meu amigo, até a próxima: "insônia ou carta".
Luciana


Ameaçaram pisar nela.
Ela se apavorou. Seu corpo tremia todo inundado de um medo e um sentimento de que ninguém a livraria desse mal. Pensou em arrancar suas partes. Mas logo tirou da cabeça essa idéia: chega de deixar suas partes pelo caminho. Queria-se inteira. Mas não queria ser machucada, já o fôra muito. Não pisaram só no pé dela. Pisaram na perna para que ela não se sustentasse. Pisaram na virilha para que ela não mais se entregasse. Pisaram na barriga para que ela não mais gerasse. Pisaram nos seus braços para que eles não mais envolvessem. Pisaram no pescoço para dividir seu corpo de sua mente. Pisaram na boca para que não mais desejasse. Pisaram no nariz para confundir os odores. Pisaram nos olhos para não mais espelhar a si mesma no outro. Pisaram em sua mente para atordoá-la. E por fim, não satisfeitos pisaram em seu coração para que ela tivesse medo, muito medo de continuar amando. Com o tempo, muito lentamente ela está desamassando suas marcas, lambendo suas feridas, regando com lágrimas suas dores. Às vezes se engana e sai por aí: estou curada! Para cair na esquina como fruta madura e ser lembrada de que ainda não. Então quando ameaçada URRA! Urra de medo e de dor. Tudo de novo? Urra! Urra para afastar o pesadelo que assola a sua alma e faz o dia escurecer como um pântano negro. Urra pedindo socorro! Urra para assustar, para afastar, para urrar!
E então, com os urros vem a culpa.A culpa por inteiro. E então o seu próprio algoz entra em cena e repisa uma por uma de suas partes. Afunda-as, chafurda-as no urro de lamentações.
E então volta a deformação. Tudo errado, tudo fora do lugar, tudo inútil.
Ameaçaram-na.
E foi uma brincadeira.
Mas ela não sentiu como se fosse. Repisaram em seu corpo disfarçando através de sorrisos e depois do silêncio da culpa e da ignorância.
Ameaçaram-na. Ela reagiu. Defendeu-se do seu próprio medo. Acusaram-na. Acharam demais o que ela fazia. Ela urrou! Depois se calou e se fechou em culpa sobre si mesma. E agora chora, só chora. (13/09/2006 às 00:30)

domingo, dezembro 17, 2006

Uma menina que sonhava muito. Sonhava quando dormia, sonhava quando acordada, sonhava quando falava, sonhava em silêncio, sonhava só e acompanhada. Sonhava com imagens, sonhava com palavras. Sonhava.
Sonhava coisas boas como um vestido branco a balançar em um campo de girassóis e seus cabelos emoldurados em um chapéu com um laço branco que caia até a sua cintura e teimava em querer voar com o vento. Sonhava coisas ruins que lhe davam medo e a faziam sentir-se em uma noite escura e fria em frente a uma casa de madeira morta que rangia com o vento como se quisesse sussurrar em seus ouvidos palavras do mal e de medo.
Sonhava acordada quando, ao acordar, o mundo lhe parecia hostil, de uma hostilidade que lhe cortava em duas. Uma que tinha que estar lá e a outra que se ausentava de si mesma a sonhar. Acordada sonhando também quando seus olhos registravam seus desejos. Desejos ditos e não ditos. Desejos, amante de sua vontade. Sonhava para realizar seus desejos, e, no entanto, para não matá-los sonhava. Desejos realizados não são mais desejos.
Sonhava quando falava. Sonhava com as palavras. Palavras que eram músicas em seus ouvidos, intrigantes caminhos de sonhos. Palavras que feriam e a faziam sonhar. Palavras soltas, cheias de significados e palavras unidas para eternizá-la. Falava e quanto mais falava sonhava. Falava também, e quanto mais falava, mais se aterrorizava pois se afastava de seus sonhos e já não os retia na memória onírica de seus desejos. Falava, e palavras faladas, trazem a realidade. E então, falava, falava mentiras para preservar o sonho.
Sonhava em silêncio. Um silêncio como o barulho da madrugada sonolenta do campo quando todos parecem dormir, sonhando, e o mundo recai sobre si mesmo com o peso de seu mutismo. Sonhava em silêncio pois só encontrava em si mesma a testemunha para seus sonhos, não que não quisesse partilhá-los, mas era uma maneira de retê-los. O silêncio trás consigo possibilidades infinitas para sonhar.
Sonhava sozinha, como um ser que se vê perante o mundo sem que reconheça a si próprio no outro e o outro em si. Sozinha quando se abandonava tentando viver o sonho de outra e então não era mais ela.
Sonhava ao se abandonar. Sonhava ao se entregar a solidão que basta por estar inteira consigo mesma. E, então, sonhava acompanhada. De vez em quando partilhava fragmentos de seus sonhos com outros sonhadores que zombavam de sua inquietude infantil de sonhar. Sonhar para quê? Ela queria sonhar e, de vez em quando, encontrava sonhadores e dividiam sonhos. Às vezes se sentia diminuída pelo tamanho do sonho do outro. Às vezes se sentia grande pois seu sonho era um gigante e espelhava nos olhos do outro o momento exato da consciência de sua pequenez. Era uma satisfação quase sádica, porém inútil, fútil. Não era o tamanho do sonho que importava e sim, sonhar.
Sonhava com imagens. Imagens que falavam com ela. Que clamavam sua presença, seu olhar carregado de deslumbramento pela emoção. Imagens que se significavam por si mesmas e passavam pelos olhos dela como damas no final da tarde vestidas com seus trajes de passeio e nariz empinado. Imagens pomposas e orgulhosas de si mesmas. Que tinham vida própria e a convidavam para sonhar ainda mais. Ela então sonhava, e sonhava mais ainda quando estas imagens uniam-se as palavras. Então seus sonhos ganhavam corpo. Vida. Ar. Respiravam por dentro, por fora, em volta dela como um vento que chega com o firme propósito de trazer movimento e levantar sua saia. E ela sonhava....
Lu C. B. (sem-vergonha em 11.09.2006)


quarta-feira, novembro 15, 2006

às vezes é difícil se olhar no espelho.
Logo que olho, meu primeiro movimento é procurar marcas.
Marcas que me deixam feia: como espinhas, cravos, rugas, sinais do tempo, manchas e outras que invento...
falei com uma amiga sobre isso e ela me confirmou que faz o mesmo.
Fiquei intrigada. Então fiz uma enquete.
E todas fazem o mesmo. Fazem bem mais do que isso a medida que o espelho aumenta na ampliação da imagem.
Pq?
Por outro lado penso: essas marcas contam a minha estória...as nossas estórias...
Outro dia li num livro que a autora ensinava as pessoas a fazerem arranjos florais e ela escolhia justamente as folhas que tinham marcas como buracos, algumas com a coloração já amarronzada, amassadas...ela dizia que tinha uma razão..que essas folhas tinham vivido.
Tinham uma estória para contar. Cada buraco, cada imperfeição, era uma estória. E com essas folhas o arranjo não seria apenas bonito. E sim teria
VIDA
(postado pela sem vergonha que anda atacada!!!)

segunda-feira, novembro 13, 2006

Encontros e Desencontros

Estranha sensação.
Descompasso. Desencontro.
Às vezes a pessoa chega na hora errada, às vezes você chega na hora errada para ela.
Às vezes a pessoa chega, entra na sua vida e vai sem pedir licença ou dizer adeus.
Às vezes é você quem faz isso e não diz porque.
Às vezes a pessoa entra na tua vida, mexe, balança, desarruma tudo e depois coloca tudo no lugar como para apagar seus rastros.
Às vezes você chega, desarruma e tem preguiça de arrumar.
Às vezes você chega um ano, um mês ou um dia adiantado.
E a pessoa um ano, uma vida atrasada.
E às vezes parece que a pessoa chega. Mas ela finge chegar. Ela não quer.
E você fica pensando que ela chegou e quer.
às vezes você pode não querer. Não é o tempo, não é a hora, não tá legal. E ela chega.
Então vem a bagunça.
E nesse vai e vem do tempo
Será que vive-se?
Será que encontram-se?
Será que permitem?
às vezes você procura a pessoa como um espelho e ela não reflete a sua imagem.
às vezes você procura refletir a imagem dela mas não consegue, ela fica fora de foco.
Às vezes a pessoa se perde, envereda por caminhos que não estão na tua direção.
Às vezes você não se encontra em nenhum caminho.
E nesse vai e vem de rumo
Será que vive-se?
Será que encontram-se?
Será que permitem?
Será que caminham?
Pode ser, mas como?

(Sem vergonha)

quarta-feira, novembro 08, 2006

"...Estranha relação é a que temos com as palavras. Aprendemos de pequenos umas quantas, ao longo da existência vamos recolhendo outras que vêm até nós pela instrução, pela conversação, pelo trato com os livros, e, no entanto, em comparação, são pouquíssimas aquelas sobre cujas significações, acepções e sentidos não teríamos nenhumas dúvidas se algum dia nos perguntássemos seriamente se as temos. Assim afirmamos e negamos, assim convencemos e somos convencidos, deduzimos e concluímos, discorrendo impávidos à superfície de conceitos sobre os quais só temos ideias muito vagas e, apesar da falsa segurança que em geral aparentamos enquanto tacteamos o caminho no meio da cerração verbal, melhor ou pior lá nos vamos entendendo, e às vezes, nos encontrando..."
(José Saramago)
"Não há quem não feche os olhos ao comer, não há quem não feche os olhos ao cantar a música favorita, não há quem não feche os olhos ao beijar, não há quem não feche os olhos ao abraçar. Fechamos os olhos para garantir a memória da memória. É ali que a vida entra e perdura, naquela escuridão mínima, no avesso das pálpebras. Concentramo-nos para segurar a dispersão, para segurar a barca ao calor do remo. O rosto é uma estrutura perfeita do silêncio. Os cílios se mexem como pedais da memória. Experimenta-se uma vez mais aquilo que não era possível. Viver é boiar, recordar é nadar. Escrevo na água, no vento da água. O passado sem os olhos fechados é como uma roupa enrugada. Sem corpo. Sem as folhas dos plátanos."
Carpinejar
"Uma mulher de trinta anos tem atrativos irresistíveis para um rapaz. Com efeito, uma jovem tem ilusões, muita inexperiência, e o sexo é bastante cúmplice do amor, ao passo que uma mulher conhece toda a extensão dos sacrifícios que tem a fazer. Lá onde uma é arrastada pela curiosidade, por seduções estranhas à do amor, a outra obedece a um sentimento consciente. Uma cede, a outra escolhe."

Balzac
Amadureci a covardia em sarcasmo.
Posso rir do sofrimento.
Mistérios existem para simular profundidade.
Sou rasa, fútil. Não reverencio a primavera,
a mais sádica das estações.
Desde a infância, ela floresce minha asma.

Posso adiar a morte, nunca o nascimento.
É impossível cortar a semente.

Carpineja
"te procuro
nas coisas boas
em nenhuma
te encontro inteiro
em cada uma
te inauguro"

Alice Ruiz

terça-feira, novembro 07, 2006

INTOLERÂNCIA

Eu e uma amiga temos conversado muito sobre a intolerância. Eu tenho sido intolerante. Não sei se é bom ou ruim e nem sei o resultado disso a longo prazo. Mas sei que de repente (de repente?), começou a me dar uma intolerância por tudo que me faz mal.
Pela falta de respeito comigo, pelas relações disfuncionais com os outros e comigo mesma. Pelo não limite dos outros e de mim mesma. Pela conversa que não diz a que veio.. Pela conversa que tenta enganar. Pelas pessoas que se enganando, enganam a minha ingenuidade.
Não sei. Intolerância me soa como algo muito ruim. De repente me vejo sem paciência. Sem rodeios. Cortando coisas da minha vida que me faziam mal, inclusive alguns componentes alimentares.
Estou sem paciência até para os meus boicotes, a minha complacência com os meus adiamentos, os meus abandonos de mim mesma. E interessante que essa intolerância é fruto de estar mais comigo. De não me deixar, de não me abandonar, de me respeitar e de me amar. De dizer não sem culpa. De dizer simplesmente não e ponto. Sem explicações. Sem tentativas vazias de me enganar. De dar um jeitinho.
Cansei de dar um jeitinho e depois ter raiva de mim pelo jeitinho que dei e não me respeitei.
É estou intolerante.
Minha amiga também se sente assim. Será a idade? A maturidade? Ou uma insanidade?
Ontem, contando pra ela os meus últimos atos de intolerância, ela me olhou boquiaberta e disse: vc não acha que está indo longe demais?
Não respondi... será que estou indo longe demais?
Não me sinto longe...pelo contrário, me sinto mais perto de mim...e comigo..
Isso tem me bastado...até para que possa ser inteira com os outros.

(Postado pela sem vergonha)

quinta-feira, novembro 02, 2006

pq?

Nessas hrs começo a me perguntar pq...
não é a toa que gosto de Clarice, ela conseguiu fazer vários pqs virarem publicáveis...
Pq to aqui? Onde estou?
Pq tem que ser assim? O que é assim?
Pq a culpa? Que culpa?
E a prisão? Pq essas grades? Como?? Grades?? Que grades??
Pq falta o ar? Qual ar vc procura?
Pq o pq?
Talvez seja o caminho para não perceber o que posso fazer se não ficar perguntando tto pq...
Do que que eu to falando mesmo???

terça-feira, setembro 19, 2006

"Quando você está na minha frente e me olha, o que pode saber das dores que estão em mim, e o que sei das suas? E, se eu me jogasse na sua frente, e chorasse, e falasse, o que você saberia de mim, mais do que sabe do inferno, quando alguém lhe diz que ele é quente e terrível? Só por causa disso, nós, humanos, deveríamos nos colocar uns diante dos outros com tanto respeito, tanta reflexão [...], como diante da entrada do inferno.
Franz Kafka

quarta-feira, setembro 13, 2006

"Quando a pessoa tentava mais intensamente relacionar-se com o outro, a pessoa não foi "ouvida" e sem voz voltou-se monológica e tragicamente para dentro" ( Trüb in Hycner, 1990)
**************************************************
Eu só me faço mulher diante de um olhar de um homem (LF)
"Ela levou anos para confiar na confiança que ela sabia que já tinha adquirido" (L.F)

segunda-feira, setembro 11, 2006

E o rosto que vc vê no espelho guarda no olhar o reflexo dos outros...
(sem vergonha, em 11/09/2006)

segunda-feira, setembro 04, 2006

CHUVA DE COISAS

" O MUNDO DA CRIANÇA É O MUNDO DAS IMAGENS E O MUNDO DOS ADULTOS É O MUNDO DAS PALAVRAS"
"TUDO QUE É VISTO É VISTO POR UM OLHAR"
"NA HORA QUE EU DOU NOME, EU "REDUZO"...."
"METER O PÉ NA JACA"
"O INÍCIO QUE NÃO TEM COMEÇO...
E O FIM QUE NUNCA TERMINA...."

quarta-feira, agosto 30, 2006

CHUVA DE CLARICE

ANTES ERA PERFEITO
Ter nascido me estragou a saúde.

O IMPULSO
Sou o que se chama de pessoa impulsiva. Como descrever? Acho que assim: vem-me uma idéia ou um sentimento e eu, em vez de refletir sobre o que me veio, ajo quase que imediatamente. O resultado tem sido meio a meio: às vezes acontece que agi sob uma intuição dessas que não falham, às vezes erro completamente, o que prova que não se tratava de intuição, mas de simples infantilidade.
Trata-se de saber se devo prosseguir nos meus impulsos. E até que ponto posso controlá-los. Há um perigo: se reflito demais, deixo de agir. E muitas vezes prova-se prova-se depois que eu deveria ter agido. Estou num impasse. Quero melhorar e não sei como. Sob o impacto de um impulso, já fiz bem a algumas pessoas. E, às vezes, ter sido impulsiva me machuca muito. E mais: nem sempre meus impulsos são de boa origem. Vêm, por exemplo, da cólera. Essa cólera às vezes deveria ser desprezada; outras, como me disse uma amiga a meu respeito, são cólera sagrada. Às vezes minha bondade é fraqueza, às vezes ela é benéica a alguém ou a mim mesma. Às vezes restringir o impulso me anula e me deprime; às vezes restringi-lo dá-me uma sensação de força interna.
Que farei então? Deverei continuar a acertar e errar, aceitando os resultados resignadamente? Ou devo lutar e tornar-me uma pessoa mais adulta? E também tenho medo de tornar-me adulta demais: eu perderia um dos prazeres do que é um jogo infantil, do que tantas vezes é uma alegria pura. Vou pensar no assunto. E certamente o resultado ainda virá sob a forma de um impulso. Não sou madura bastante ainda. Ou nunca serei.


(FRAGMENTOS DE) BRAIN STORM
A loucura é vizinha da mais cruel sensatez. Engulo a loucura porque ela me alucina calmamente.

A criatividade é desencadeada por um germe e eu não tenho hoje esse germe mas tenho incipiente a loucura que em si mesma é criação válida.

Nada mais tenho a ver com a validez das coisas. Estou liberta ou perdida.

Vou-lhes contar um segredo: a vida é mortal.

Mas se não compreendo o que escrevo a culpa não é minha. Tenho que falar pois falar salva.

As palavras já ditas me amordaçaram a boca.

Se desse a loucura de franqueza, que diriam as pessoas às outras?

A pior cegueira é a os que não sabem que estão cegos. Abro bem os olhos, e não adianta: apenas vejo.

e não viver com música é trair a condição que é cercada de música.

Só posso escrever se estiver livre, e livre de censura, senão sucumbo.

Tudo o que nunca se fez, far-se-á um dia?

O futuro da tecnologia ameaça destruir tudo o que é humano no homem, mas a tecnologia não atinge a loucura: e nela então o humano do homem se refugia.

Entender o difícil não é vantagem, mas amar o que é fácil de amar é uma grande subida na escala humana.

Não há lógica, se se for pensar um pouco, na ilogicidade perfeitamente equilibrada da natureza. Da natureza humana também.



domingo, julho 30, 2006

"Mas há a vida
que é para ser
intensamente vivida,
há o amor.
Que tem que ser vivido
até a última gota.
Sem nenhum medo.
Não mata."
(Clarice Lispector)


quarta-feira, julho 12, 2006


"Amadureci a covardia em sarcasmo.
Posso rir do sofrimento.
Mistérios existem para simular profundidade.
Sou rasa, fútil.
Não reverencio a primavera,a mais sádica das estações.
Desde a infância, ela floresce minha asma.
Posso adiar a morte, nunca o nascimento.
É impossível cortar a semente."
Fabrício Carpinejar
em "Cinco Marias"Ed. Bertrand Brasil2004

terça-feira, julho 11, 2006

O reflexo do outro: o tempo
Eu estava pensando na passagem do tempo em nossas vidas..ou na passagem das nossas vidas com o tempo...e como duas vidas vão se encontrando e desencontrando. É, muitas vezes, percebendo como o tempo passa para os outros e as marcas que deixam nos seus rostos e risos que vou percebendo que ele também passa em mim e me deixou e deixa marcas.
Há mais ou menos uns 10, 12 anos nos conhecemos...ele ainda uma criança vendendo doces em sinais de trânsito. Deveria ter uns 8, 9 anos. Um dia eu passei no sinal em que ele estava e ele quase não podia andar direito, perguntei então o que era aquilo e ele me mostrou um machucado muito feio em seu pé que ainda sangrava. Eu não consegui seguir meu caminho, fui a uma farmácia e comprei os produtos para um curativo. E então parei em uma esquina e lembro nitidamente dele agachado na porta do carro e eu fazendo o curativo no pé dele. Me senti muito bem de ter realizado aquilo que para mim seria uma “boa ação”. Criamos ali, um vínculo. Um vínculo que muitas vezes me deixou frustrada. Lembro-me de perceber o quanto ele se tornava agressivo quando eu não podia ou não queria comprar algo dele. Ele ficava com muita raiva, fechava a cara e não falava mais comigo. Eu só via o sorriso dele quando eu comprava algo que ele estava vendendo. O que me deixava com muita raiva e eu pensava (admito isso com muita vergonha hoje em dia), “como pode??? Eu fiz curativo no pé dele e ele ainda me trata assim??? Ele deveria ficar sempre agradecido!!” vejam vocês que “boa ação” que eu fiz, que queria gratidão eterna. Quanto aprendi com aquele garoto. Quanto aprendi com a raiva que sentia cada vez que ele me virava a cara. Quantas vezes deixei de comprar porque estava chateada com ele, por ele não se demonstrar grato. E então começamos a crescer. Os dois. Ele começou a ficar mais adolescente, e eu mais velha um pouco.
Vi exatamente a passagem do tempo nele. Não é uma pessoa que eu vejo todos os dias. Mas de vez em quando nos encontramos. Ele mudou de sinal. Está em outra esquina, mas continua trabalhando da mesma forma, com o mesmo produto. Aprendi a conviver com ele sem que o mau humor dele ou a raiva dele deliberasse em mim a minha própria raiva. E por várias vezes me peguei pensando: de onde vem tanta raiva? O que será que esse menino diria se tivesse voz? O que ele faria se pudesse fazer?
Porém o que mais me marcou não foi a sua barba, ou a sua nova altura e sim o seu sorriso. Agora é um sorriso sem dentes. Isso mesmo, o tempo passou, e seus dentes caíram. Não sei dizer o que me choca nisso, várias coisas. Mas os dentes dele caíram quase todos, e os que restam estão todos pretos.
Interessante que quando vi o seu sorriso desdentado pela primeira vez pensei que ele estava envelhecendo, o quanto ele tinha crescido e o que a vida tinha feito com ele. Não que eu não acredite que ele tem responsabilidades de escolhas em sua vida. Mas a nossa condição sócio-econômica é bem complicada pois tem uma tendência a colocar tapões em nossos olhos e correntes em nossas pernas.
Então em um dia eu estava indo para o trabalho.... e com a passagem do tempo já não sou mais a mesma e nem tenho mais a mesma disponibilidade para ajudar da forma como ajudei há uns anos atrás... A vida e minhas escolhas me permitiram que o tempo sempre me dê a impressão de que corre e de que não vou conseguir alcançá-lo e com isso muitas vezes não olho mais pro lado.
Voltando: um dia estava indo para o trabalho e então parei em um sinal perto do que ele fica e ele veio falar comigo. Estava com o semblante cansado, triste, deveria ser 8 da manhã. Ele me ofereceu algo, eu disse que não tinha dinheiro. Ele então me falou (e senti que não foi por mim e sim era ele com ele) que estava cansado demais, que não agüentava mais essa vida, que não sabia o que iria fazer com a vida dele mais e que não sabia o que iria fazer com a vida dele mais e que ainda iria fazer uma besteira. Na hora eu não lembro o que disse, só lembro de minha sensação dúbia. Eu não queria estar ali escutando isso porque me dei conta de meu próprio cansaço, e ao mesmo tempo eu tinha hora para chegar no trabalho, eu não queria que ele me dissesse aquilo justo aquele dia, justo aquela hora, e será que iria querer algum dia? Deixei ele ir andando... E fiquei olhando seu caminhar pelo retrovisor e segui. Foi então que meu coração apertou e me tomou um senso de urgência: preciso ir atrás dele. Deixei minha mãe no trabalho e saí atrás dele, dei voltas no quarteirão e não o encontrei. Fiquei uma semana sem notícias, lembro que passava pelo sinal dele e ele não estava e eu pensava, o que será que ele fez? Será que ainda vou vê-lo?
Uma semana e ele apareceu. Não toquei no assunto, não sei porque. Acho que eu não dava conta de falar com ele sobre aquilo. Mas ele voltou, está aí, vendendo, sorrindo desdentado (ainda arranjo um dentista pra ele, sem esperar pela sua gratidão, porque na realidade estou mais fazendo por mim do que por ele). Talvez os dentes dele me incomodem mais do que a ele. Será que ele quer ir a algum dentista? Então isso é meu.
Ele está lá...Deve estar lá agora... Às vezes sorri...às vezes está triste...às vezes com raiva...E vejo que eu às vezes estou assim também. Nossas vidas não tem nada em comum (ou tem demais) a não ser perceber quê o que o tempo fez com cada um de nós e que, independente disso, os sentimentos são inerentes a nossa condição, seja lá o tempo e o espaço em que vivemos.
Vamos continuar nossas vidas. Não sei como vai ser a minha.. E nem a dele...Nossa interseção é um sinal de trânsito. Onde ali, me deparo com o que o tempo fez com ele e ao mesmo tempo como num espelho, o que o tempo fez comigo. Ou o que é pior, ou melhor: o que cada um de nós fez com o tempo que tivemos e teremos.
(Vergonha)




quinta-feira, julho 06, 2006

Separados pelo casamento = separados pela auto-ilusão.

Ante-ontem fui ao cinema com minha irmã (que se separou há pouco) e uma amiga. Uma outra amiga monitorando o filme através do meu celular, pois queria ter ido mas como é casada e não estava com a babá, tinha que ficar com os filhos. O filme: separados pelo casamento. Título bastante sugestivo nesse momento nem tão atual em que casamentos mal acontecem e se desfazem. Podemos nem falar de casamento, mas talvez separados por viverem no mesmo teto e com problemas de comunicação e de percepção.
Inicia o filme com uma cantada e um encontro. Gostei dele, do ritmo...ela tb...passa por uma seqüência de fotos que mostra todos bem felizes e curtindo bem a vida, o que dá a entender que foi a fase do namoro, não é a toa que hoje mtos não querem passar dessa fase, o que está estragando a entidade "namoro" e tendo conseqüência, que hoje, já tem muitos que não querem nem namorar.
Então eles resolvem morar juntos. E então é aí que tudo desanda, que as diferenças ficam mais evidentes e mostra que a alfabetização dos dois não foi no mesmo país e quiçá no mesmo planeta.
Ela quer atenção, quer ser valorizada, que ser vista por ele, mas não consegue perceber que casou com uma pessoa que ainda não estava preparada para ceder, para olhar pra mais além do que seu próprio umbigo. Como dar o que não se tem?
Ela fala X ele entende X, mas na realidade ela queria que ele entendesse Y. Meandros femininos (?) ou humanos de: ou não se perceber o que se quer ou então não saber pedir (sabe-se lá os motivos dessa não sapiência).
E então vem as táticas. Ela quer chamar a atenção dele e mostrar pra ele o que pode perder se ele não "acordar" e coloca um ponto final verbal e precoce. Ele então se sente descartado enquanto seu amigo tonto olha pra situação exatamente como viveu antes, ele está sendo traído. Ainda bem que o diretor não enveredou por esse caminho, seria muito lugar comum, uma sucessão de erros, discussões banais por uma razão infundada e não real.
Então a "guerra" (segundo uma amiga) se inicia. E aí, guerra é guerra, chega-se em um momento que nem se sabe mas o porquê de estarem brigando, só querem dar o troco ou vencer. Vencer o quê? Afinal, antecipando: quando ela consegue o que quer ela já não o quer mais... Fiquei pensando nisso, quanto desgaste, quanta energia para em um momento ela perceber que não o quer mais.
Na relação deu pra perceber que ela era a mais esclarecida no sentido de emoções, sentimentos e relações. Ele ainda estava caminhando para isso. Houve então um descompasso em que ela não teve olhos para perceber e paciência para auxiliar e esperar o caminhar do outro. Que muitas vezes é diferente, e quase sempre, bem diferente do nosso.
Estar junto não necessariamente é caminhar no mesmo ritmo e sim, às vezes afrouxar o passo para ir até onde o outro está ou acelerar para alcançar o que está na frente. Mas mesmo afrouxando e acelerando não é o ritmo da pessoa... O que a faz retornar ao seu ritmo mesmo depois dos encontros. Impor que uma pessoa ande no mesmo ritmo que a gente é o mesmo que atropelá-la e querer ser o que ela não é, aí uma pergunta: com quem estamos vivendo?? Algo que queremos e estamos induzindo ou com a pessoa real.
Isso que faltou no filme, um olhar para o outro como as pessoas que eram e perceberem se a partir daquele momento queriam continuar com a pessoa que estava do seu lado, que naturalmente iria ser diferente.
Ele não tinha ouvidos para escutar no início mesmo que ela dissesse claramente que queria reconhecimento e atenção, ao invés de brigar por meia dúzia de limões. Mesmo que ela fosse clara, a sensação que me dá é que ele não teria ouvidos para escutar isso, aí iria dela perceber se queria ou não continuar, se dava ou não esperar pelo crescimento emocional dele. Ele só foi ter ouvidos quando o amigo o fez ver o quanto o mundo girava ao redor dele. Então caiu a famosa ficha. Mas já era tarde, ela se perdeu na guerra, não sabia mais pelo que estava lutando e então caiu fora.
Não houve vencedores na relação dos dois. Houve vencedores na vida pessoal de cada, pelo menos na dele ficou muito evidente. Ele passou a olhar para o lado e com isso amadureceu (pelo menos eu quero ver assim...).
O encontro final é muito interessante. Me recordou a intensa intimidade que você vive com alguém e que, quando a relação acaba, essa intimidade evapora, a pessoa que antes te via nua, que sabia de todas as suas manias, de repente não tem mais acesso a isso e nem a tua vida ou companhia. Que estranho isso. E então, você vai ficando de novo desconhecido um para o outro. O último encontro foram de dois desconhecidos, tanto mostra que eram que não pareciam feridos ou magoados ou com qualquer sentimento em relação ao que viveram e sim, como se estivessem querendo re-conhecer um ao outro. Não sei se essa já é a minha visão romântica, mas a sensação que me deu foi de um re-encontro. Não sei se pra ficarem juntos ou se pra demarcarem suas próprias mudanças.
Saí de lá pensando se vou casar. Não tenho pretendentes ainda. Mas pensamento de mulher sempre antecipa o futuro mesmo que não tenha elementos reais para tal. Eu vou casar? Não sei. Mas espero poder ver quem está ao meu lado, perceber seu ritmo e me mostrar quem sou e o meu ritmo. E quem sabe ficaremos juntos ou não... Vida é movimento...
(Vergonha em seu primeiro momento sem-vergonha)

quarta-feira, julho 05, 2006

(Salvador Dalí)
Eu já lutei para ser livre,
Antes de perceber que lutar pela liberdade é uma prisão.
Eu já lutei pelo amor,
Antes de perceber que o amor é inversamente proporcional a luta por ele.
Eu já lutei para ser ouvida pelos outros,
Até perceber que no silêncio eu aprendi a ouvir a mim mesma.
Eu já lutei contra o tempo,
Até perceber que a luta o torna imensuravelmente mais rápido.
Eu já lutei contra as injustiças,
Até perceber que a luta, sem ação dirigida, era injusto comigo mesma.
Eu já lutei contra erros,
Até uma pessoa especial me dizer que “erros são caracterológicos”, então eles não existem.
Eu já lutei para entender,
Até fazer coro com Clarice Lispector de que “viver ultrapassa todo entendimento”.
Eu já lutei pelo controle absoluto,
Até perceber que ela é uma miragem, afinal “navegar é preciso, viver não é preciso”.
Eu já lutei...
Hoje eu vivo.
(Vergonha)


O Sol

Hey, dor
Eu não te escuto mais
Você não me leva a nada

Hey, medo
Eu não te escuto mais
Você não me leva a nada

E se quiser saber pra onde eu vou
Pra onde tenha sol
É pra lá que eu vou

E se quiser saber pra onde eu vou
Pra onde tenha sol
É pra lá que eu vou

(Postado pela Vergonha que está sonhando com férias permanentemente remuneradas)


terça-feira, julho 04, 2006

O Amor não é livre
(Foto: F. Lobato)
"Eu falo de amor à vida,
Você de medo da morte.
Eu falo da força do acaso
E você de azar ou sorte.
Eu ando num labirinto
E você numa estrada em linha reta.
Te chamo pra festa,
Mas você só quer atingir sua meta.
Sua meta é a seta no alvo,
Mas o alvo, na certa, não te espera.
Eu olho pro infinito
E você de óculos escuros.
Eu digo: "Te amo!"
E você só acredita quando eu juro.
Eu lanço minha alma no espaço,
Você pisa os pés na terra.
Eu experimento o futuro
E você só lamenta não ser o que era.
E o que era?
Era a seta no alvo,
Mas o alvo, na certa, não te espera.
Eu grito por liberdade,
Você deixa a porta se fechar.
Eu quero saber a verdade
E você se perocupa em não se machucar.
Eu corro todos os riscos,
Você diz que não tem mais vontade.
Eu me ofereço inteiro
E você se satisfaz com metade.
É a meta de uma seta no alvo,
Mas o alvo, na certa não te espera!
Então me diz qual é a graça
De já saber o fim da estrada,
Quando se parte rumo ao nada?
Sempre a meta de uma seta no alvo,
Mas o alvo, na certa, não te espera.
Então me diz qual é a graça
De já saber o fim da estrada,
Quando se parte rumo ao nada? "

(Paulinho Moska)
(postado pela VERGONHA em homenagem à SEM VERGONHA)

segunda-feira, julho 03, 2006

Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.

Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.

De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,

Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo : "Fui eu ?"
Deus sabe, porque o escreveu.

(Alberto Caeiro) (postado pela VERGONHA)