quinta-feira, julho 06, 2006

Separados pelo casamento = separados pela auto-ilusão.

Ante-ontem fui ao cinema com minha irmã (que se separou há pouco) e uma amiga. Uma outra amiga monitorando o filme através do meu celular, pois queria ter ido mas como é casada e não estava com a babá, tinha que ficar com os filhos. O filme: separados pelo casamento. Título bastante sugestivo nesse momento nem tão atual em que casamentos mal acontecem e se desfazem. Podemos nem falar de casamento, mas talvez separados por viverem no mesmo teto e com problemas de comunicação e de percepção.
Inicia o filme com uma cantada e um encontro. Gostei dele, do ritmo...ela tb...passa por uma seqüência de fotos que mostra todos bem felizes e curtindo bem a vida, o que dá a entender que foi a fase do namoro, não é a toa que hoje mtos não querem passar dessa fase, o que está estragando a entidade "namoro" e tendo conseqüência, que hoje, já tem muitos que não querem nem namorar.
Então eles resolvem morar juntos. E então é aí que tudo desanda, que as diferenças ficam mais evidentes e mostra que a alfabetização dos dois não foi no mesmo país e quiçá no mesmo planeta.
Ela quer atenção, quer ser valorizada, que ser vista por ele, mas não consegue perceber que casou com uma pessoa que ainda não estava preparada para ceder, para olhar pra mais além do que seu próprio umbigo. Como dar o que não se tem?
Ela fala X ele entende X, mas na realidade ela queria que ele entendesse Y. Meandros femininos (?) ou humanos de: ou não se perceber o que se quer ou então não saber pedir (sabe-se lá os motivos dessa não sapiência).
E então vem as táticas. Ela quer chamar a atenção dele e mostrar pra ele o que pode perder se ele não "acordar" e coloca um ponto final verbal e precoce. Ele então se sente descartado enquanto seu amigo tonto olha pra situação exatamente como viveu antes, ele está sendo traído. Ainda bem que o diretor não enveredou por esse caminho, seria muito lugar comum, uma sucessão de erros, discussões banais por uma razão infundada e não real.
Então a "guerra" (segundo uma amiga) se inicia. E aí, guerra é guerra, chega-se em um momento que nem se sabe mas o porquê de estarem brigando, só querem dar o troco ou vencer. Vencer o quê? Afinal, antecipando: quando ela consegue o que quer ela já não o quer mais... Fiquei pensando nisso, quanto desgaste, quanta energia para em um momento ela perceber que não o quer mais.
Na relação deu pra perceber que ela era a mais esclarecida no sentido de emoções, sentimentos e relações. Ele ainda estava caminhando para isso. Houve então um descompasso em que ela não teve olhos para perceber e paciência para auxiliar e esperar o caminhar do outro. Que muitas vezes é diferente, e quase sempre, bem diferente do nosso.
Estar junto não necessariamente é caminhar no mesmo ritmo e sim, às vezes afrouxar o passo para ir até onde o outro está ou acelerar para alcançar o que está na frente. Mas mesmo afrouxando e acelerando não é o ritmo da pessoa... O que a faz retornar ao seu ritmo mesmo depois dos encontros. Impor que uma pessoa ande no mesmo ritmo que a gente é o mesmo que atropelá-la e querer ser o que ela não é, aí uma pergunta: com quem estamos vivendo?? Algo que queremos e estamos induzindo ou com a pessoa real.
Isso que faltou no filme, um olhar para o outro como as pessoas que eram e perceberem se a partir daquele momento queriam continuar com a pessoa que estava do seu lado, que naturalmente iria ser diferente.
Ele não tinha ouvidos para escutar no início mesmo que ela dissesse claramente que queria reconhecimento e atenção, ao invés de brigar por meia dúzia de limões. Mesmo que ela fosse clara, a sensação que me dá é que ele não teria ouvidos para escutar isso, aí iria dela perceber se queria ou não continuar, se dava ou não esperar pelo crescimento emocional dele. Ele só foi ter ouvidos quando o amigo o fez ver o quanto o mundo girava ao redor dele. Então caiu a famosa ficha. Mas já era tarde, ela se perdeu na guerra, não sabia mais pelo que estava lutando e então caiu fora.
Não houve vencedores na relação dos dois. Houve vencedores na vida pessoal de cada, pelo menos na dele ficou muito evidente. Ele passou a olhar para o lado e com isso amadureceu (pelo menos eu quero ver assim...).
O encontro final é muito interessante. Me recordou a intensa intimidade que você vive com alguém e que, quando a relação acaba, essa intimidade evapora, a pessoa que antes te via nua, que sabia de todas as suas manias, de repente não tem mais acesso a isso e nem a tua vida ou companhia. Que estranho isso. E então, você vai ficando de novo desconhecido um para o outro. O último encontro foram de dois desconhecidos, tanto mostra que eram que não pareciam feridos ou magoados ou com qualquer sentimento em relação ao que viveram e sim, como se estivessem querendo re-conhecer um ao outro. Não sei se essa já é a minha visão romântica, mas a sensação que me deu foi de um re-encontro. Não sei se pra ficarem juntos ou se pra demarcarem suas próprias mudanças.
Saí de lá pensando se vou casar. Não tenho pretendentes ainda. Mas pensamento de mulher sempre antecipa o futuro mesmo que não tenha elementos reais para tal. Eu vou casar? Não sei. Mas espero poder ver quem está ao meu lado, perceber seu ritmo e me mostrar quem sou e o meu ritmo. E quem sabe ficaremos juntos ou não... Vida é movimento...
(Vergonha em seu primeiro momento sem-vergonha)

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