Uma menina que sonhava muito. Sonhava quando dormia, sonhava quando acordada, sonhava quando falava, sonhava em silêncio, sonhava só e acompanhada. Sonhava com imagens, sonhava com palavras. Sonhava.
Sonhava coisas boas como um vestido branco a balançar em um campo de girassóis e seus cabelos emoldurados em um chapéu com um laço branco que caia até a sua cintura e teimava em querer voar com o vento. Sonhava coisas ruins que lhe davam medo e a faziam sentir-se em uma noite escura e fria em frente a uma casa de madeira morta que rangia com o vento como se quisesse sussurrar em seus ouvidos palavras do mal e de medo.
Sonhava acordada quando, ao acordar, o mundo lhe parecia hostil, de uma hostilidade que lhe cortava em duas. Uma que tinha que estar lá e a outra que se ausentava de si mesma a sonhar. Acordada sonhando também quando seus olhos registravam seus desejos. Desejos ditos e não ditos. Desejos, amante de sua vontade. Sonhava para realizar seus desejos, e, no entanto, para não matá-los sonhava. Desejos realizados não são mais desejos.
Sonhava quando falava. Sonhava com as palavras. Palavras que eram músicas em seus ouvidos, intrigantes caminhos de sonhos. Palavras que feriam e a faziam sonhar. Palavras soltas, cheias de significados e palavras unidas para eternizá-la. Falava e quanto mais falava sonhava. Falava também, e quanto mais falava, mais se aterrorizava pois se afastava de seus sonhos e já não os retia na memória onírica de seus desejos. Falava, e palavras faladas, trazem a realidade. E então, falava, falava mentiras para preservar o sonho.
Sonhava em silêncio. Um silêncio como o barulho da madrugada sonolenta do campo quando todos parecem dormir, sonhando, e o mundo recai sobre si mesmo com o peso de seu mutismo. Sonhava em silêncio pois só encontrava em si mesma a testemunha para seus sonhos, não que não quisesse partilhá-los, mas era uma maneira de retê-los. O silêncio trás consigo possibilidades infinitas para sonhar.
Sonhava sozinha, como um ser que se vê perante o mundo sem que reconheça a si próprio no outro e o outro em si. Sozinha quando se abandonava tentando viver o sonho de outra e então não era mais ela.
Sonhava ao se abandonar. Sonhava ao se entregar a solidão que basta por estar inteira consigo mesma. E, então, sonhava acompanhada. De vez em quando partilhava fragmentos de seus sonhos com outros sonhadores que zombavam de sua inquietude infantil de sonhar. Sonhar para quê? Ela queria sonhar e, de vez em quando, encontrava sonhadores e dividiam sonhos. Às vezes se sentia diminuída pelo tamanho do sonho do outro. Às vezes se sentia grande pois seu sonho era um gigante e espelhava nos olhos do outro o momento exato da consciência de sua pequenez. Era uma satisfação quase sádica, porém inútil, fútil. Não era o tamanho do sonho que importava e sim, sonhar.
Sonhava com imagens. Imagens que falavam com ela. Que clamavam sua presença, seu olhar carregado de deslumbramento pela emoção. Imagens que se significavam por si mesmas e passavam pelos olhos dela como damas no final da tarde vestidas com seus trajes de passeio e nariz empinado. Imagens pomposas e orgulhosas de si mesmas. Que tinham vida própria e a convidavam para sonhar ainda mais. Ela então sonhava, e sonhava mais ainda quando estas imagens uniam-se as palavras. Então seus sonhos ganhavam corpo. Vida. Ar. Respiravam por dentro, por fora, em volta dela como um vento que chega com o firme propósito de trazer movimento e levantar sua saia. E ela sonhava....
Lu C. B. (sem-vergonha em 11.09.2006)
Sonhava coisas boas como um vestido branco a balançar em um campo de girassóis e seus cabelos emoldurados em um chapéu com um laço branco que caia até a sua cintura e teimava em querer voar com o vento. Sonhava coisas ruins que lhe davam medo e a faziam sentir-se em uma noite escura e fria em frente a uma casa de madeira morta que rangia com o vento como se quisesse sussurrar em seus ouvidos palavras do mal e de medo.
Sonhava acordada quando, ao acordar, o mundo lhe parecia hostil, de uma hostilidade que lhe cortava em duas. Uma que tinha que estar lá e a outra que se ausentava de si mesma a sonhar. Acordada sonhando também quando seus olhos registravam seus desejos. Desejos ditos e não ditos. Desejos, amante de sua vontade. Sonhava para realizar seus desejos, e, no entanto, para não matá-los sonhava. Desejos realizados não são mais desejos.
Sonhava quando falava. Sonhava com as palavras. Palavras que eram músicas em seus ouvidos, intrigantes caminhos de sonhos. Palavras que feriam e a faziam sonhar. Palavras soltas, cheias de significados e palavras unidas para eternizá-la. Falava e quanto mais falava sonhava. Falava também, e quanto mais falava, mais se aterrorizava pois se afastava de seus sonhos e já não os retia na memória onírica de seus desejos. Falava, e palavras faladas, trazem a realidade. E então, falava, falava mentiras para preservar o sonho.
Sonhava em silêncio. Um silêncio como o barulho da madrugada sonolenta do campo quando todos parecem dormir, sonhando, e o mundo recai sobre si mesmo com o peso de seu mutismo. Sonhava em silêncio pois só encontrava em si mesma a testemunha para seus sonhos, não que não quisesse partilhá-los, mas era uma maneira de retê-los. O silêncio trás consigo possibilidades infinitas para sonhar.
Sonhava sozinha, como um ser que se vê perante o mundo sem que reconheça a si próprio no outro e o outro em si. Sozinha quando se abandonava tentando viver o sonho de outra e então não era mais ela.
Sonhava ao se abandonar. Sonhava ao se entregar a solidão que basta por estar inteira consigo mesma. E, então, sonhava acompanhada. De vez em quando partilhava fragmentos de seus sonhos com outros sonhadores que zombavam de sua inquietude infantil de sonhar. Sonhar para quê? Ela queria sonhar e, de vez em quando, encontrava sonhadores e dividiam sonhos. Às vezes se sentia diminuída pelo tamanho do sonho do outro. Às vezes se sentia grande pois seu sonho era um gigante e espelhava nos olhos do outro o momento exato da consciência de sua pequenez. Era uma satisfação quase sádica, porém inútil, fútil. Não era o tamanho do sonho que importava e sim, sonhar.
Sonhava com imagens. Imagens que falavam com ela. Que clamavam sua presença, seu olhar carregado de deslumbramento pela emoção. Imagens que se significavam por si mesmas e passavam pelos olhos dela como damas no final da tarde vestidas com seus trajes de passeio e nariz empinado. Imagens pomposas e orgulhosas de si mesmas. Que tinham vida própria e a convidavam para sonhar ainda mais. Ela então sonhava, e sonhava mais ainda quando estas imagens uniam-se as palavras. Então seus sonhos ganhavam corpo. Vida. Ar. Respiravam por dentro, por fora, em volta dela como um vento que chega com o firme propósito de trazer movimento e levantar sua saia. E ela sonhava....
Lu C. B. (sem-vergonha em 11.09.2006)
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