quinta-feira, janeiro 17, 2008


Hoje eu estou

"Como uma planta que cresce assimilando do solo e do ar nutrientes que lhe ajudarão a crescer, ao mesmo tempo em que cria e desenvolve mecanismos para se proteger de elementos que possam ameaçar a sua existência, filtrando poluentes, desenvolvento raízes fortes, fechando-se ao contato com elementos potencialmente agressivos, criando formas inusitadas para receber o sol ou proteger-se das intempéries." (Selma Ciornai)

sexta-feira, janeiro 11, 2008

Quando fazemos a leitura de um texto, por mais fiel que saia a leitura, se ficarmos atentos, observando, notaremos que, apesar do treino, dois homens não podem, nem conseguem lê-lo da mesma forma. A subjetividade os trai, ainda que seja a mais sutil possível, só captável por um expert atento. A respiração, a entonaçaõ de uma palavra, denunciam a subjetividade. Alguma marca da subjetividade vamos receber junto com a leitura do texto.
Assim, nos animais e nos bebês humanos temos, como expressão, os signos; no homem adulto, os símbolos.
Esse despreparo institivo acarreta ao homem a condenação de se tornar um animal gregário, não mais pelo instinto, e sim pela dependência. A evolução e o desenvolvimento do bebê humano são intercalados pela presença do outro. E a falta dessa intimidade o condena a buscar eternamente essa complementação.
(...)
Então, durante a falta, organiza-se um espaço para a alucinação perceptiva dessa presença.
(...)
A partir dessa entrada numa outra dimensão, toda a realidade passa pela subjetividade. Nenhum fenômeno escapa desse crivo. A realidade passa a ser apreendida pelo referencial subjetivo individual de cada um, herança do que foi vivido com a inter-relação com esse "outro", que engloba a cultura, a fala e a subjetividade desse mesmo "outro",
(...)
O homem perverte a organização biológica.
Faz greve de fome, mata-se por uma ideologia, alimenta-se não mais para sobreviver, droga-se, destrói sua vida biológica em prol de desejos.
Que ser é esse? Um ser tomado pela subversão dessa organização primitiva, em que a equação era determinada: para o instinto sexual, só a prática sexual, ou o acasalamento, satisfaz o instinto. No homem, ocorre um outro fenômeno. Ele se satisfaz sexualmente pelo olhar, pela fantasia, pela masturbação, afastando-se da procriação. A fêmea humana tem seu "cio" independente do período fértil para a sobrevivência da espécie. Esse fenômeno modifica toda a vida instintiva. E surgem o erotismo e as fantasias, as perversões e as doenças, resultado da supremacia do desejo sobre as funções fisiológicas na busca do prazer.

Regina T. Winter
"Os outros lugares são espelhos em negativo. O viajante reconhece o pouco que é seu descobrindo o muito que não teve e o que não terá."
Ítalo Calvino

quinta-feira, janeiro 03, 2008

7:00h da manhã. O despertador do celular toca. Ela abre o fecha o flip, forma mais rápida de ativar o "soneca". 8 minutos a mais de sono. 8? Ela já tentou colocar 10 minutos. Não conseguiu. Desde que recebeu esse celular sempre fica intrigada com os 8 minutos. Porque não 10? Ela ganhava mais 2. E voltou a fechar os olhos. Tocou de novo. Tem certeza que o celular estava enganando-a. Já? Abriu os olhos e a primeira coisa que viu foi o teto branco e pálido em cima dos seus olhos. Tela em branco. Tédio.
Mais um dia em que ela tem que se vestir dela mesma, vestir um sorriso, vestir expressões e ir para o mundo se relacionar. Trabalho. Há muito seu trabalho perdeu o viço. O viço de uma adolescente. Há muito em que ela oscila entre suportar um dia a mais e não suportar mais nem levantar da cama. Há muito também que esses dois estados são intercalados sob variados aspectos de humor em que ela abstrai da vida que ela escolheu e sonha com outras vidas. E como uma boneca de corda, consegue um pouco mais de fôlego para o dia seguinte.
Abriu os olhos, olhou a palidez do teto, reflexo de sua vida e pensou: mais um dia. Um dia em que ela chegará atrasada mais uma vez, um dia em que ela se arrastará até o elevador, do elevador para o carro, e tal qual uma autômata segue dirigindo até o local. Lá sai do carro, veste o seu melhor e mais enganador sorriso e vai adiante despejando bom dia aos outros que passam por ela. Engana bem. Só não consegue se enganar. Ela tentava. Tentava sempre, agora não tem mais forças para isso. Ela não se engana mais. Mas também não sabe mais o que é a sua verdade. O que será dela? O que ela quer? Pelo que deve continuar? Pelo que deve viver?
Ela vai pesada na frente do computador e busca um mundo que não é o que ela está. Busca mas também não satisfaz. Ela sabe. Não dá mais pra viajar. Não dá mais pra fingir. Nada mais pode servir de trampolim para a ausência da realidade na fantasia, na esperança. A vida é o que é. O dia a dia é o que é. Tal como o teto: pálido, branco, sem movimento.
Ela se estranha. Existem duas. A fantasiada. Que veste roupas de acordo com a ocasião. Roupas muitas vezes de 1,99. Outras sofisticadas. Que ela até acredita. Mas sabe que não passa de um baile de máscaras.
E então ela descobre, nesse dia, uma forma de se isolar. Vai para uma sala isolada mas deixa a porta aberta. E liga o computador.
Na lentidão espera e olha para o lado.
Então um homem vem e diz: um doce pelos teus pensamentos.
E a desperta, salva dela mesma.
(Em 30/11/2007)

quarta-feira, janeiro 02, 2008

"Que eu faça um mendigo sentar-se à minha mesa, que eu perdoe aquele que me ofende e me esforce por amar, inclusive o meu inimigo, em nome de Cristo, tudo isto, naturalmente, não deixa de ser uma grande virtude. O que faço ao menor dos meus irmãos é ao próprio Cristo que faço. Mas o que acontecerá se descubro, porventura, que o menor, o mais miserável de todos, o mais pobre dos mendigos, o mais insolente dos meus caluniadores, o meu inimigo, reside dentro de mim, sou eu mesmo, e precisa da esmola da minha bondade, e que eu mesmo sou o inimigo que é necessário amar"(?).
Carl Gustav Jung
The Collected Works of CG Jung. Vol XI, Pg 520.
Palavras não são vendidas no atacado. Pelo menos em suas origens. Qualquer outra arte tem que ter no mínimo uma mola que move o mundo. O dinheiro subverteu a arte. De onde vem os pinçéis e as telas? (Em 10.09.2007)
Não consigo desgarrar das palavras. Será que é apego? Não. Muito simples... Mas continuo achando que palavras são gaiolas. Estou construindo aqui gaiolas ou a libertação? Afinal, de que material é feita a vida? Ele tem raiva de mim. Peço que deixe a raiva ficar mas que não me prejudique, a raiva é dele e não minha. Sou frágil. A vida é feita disso: fragilidade. E de inconsistência. A vida é líquida, já diz um título de um livro. Um líquido que escorre entre os dedos das mãos e dos pés para o bueiro da mortalidade. Ou da eternidade. Vida é morte aos pedaços. E a angústia? Outro material que reveste a vida. Angústia é criação... Qual então será a criatura? Isso diz quem eu sou?
Em 10/09/2007

O espião

"espio
no espelho
o espião
que existe
em mim
mas ei-lo
que logo se esconde
atrás
da imagem
que espio
em mim".

Flávio Moreira da Costa (O Espião)
Tudo a que você resiste, persiste"

Karl Gustav Jung (1875-1961)
"... Dependência não se discute, arruma-se qualquer desculpa para mantê-la"
Carpinejar...

"... o amor tem a mania da sincronia. Pune quem se antecipa ou chega atrasado."
Carpinejar...

"Antecipa o fim porque não está disposto a recomeçar..."
Carpinejar...

Reticências depois do nome do Carpinejar indica o que penso dele: ilimitado...