sexta-feira, março 05, 2010

Ayla



Quando criança, Ayla, que não entendia nada do mundo e nem seus pais, pois o mundo estava apenas começando e viviam mais como animais do que como conceituamos humanos hoje, não sabia de nada. Ayla apenas vivia. E um dia, a terra se abriu e engoliu seus pais. Ela presenciou aquilo e não entendeu nada. Apenas lhe veio o terror e a tristeza de não ter mais os pais por perto, de se perceber sozinha e de que o mundo poderia ser tão inseguro, mas tão inseguro, sem solidez, que o chão poderia se abrir a qualquer momento e sugá-la também. Assim começa a sua saga. Na pré-história isso aconteceu. Antes da história.
Na história isso ainda acontece com Ayla. Ela sente que seu chão abriu há muito tempo e que ela se segura em uma corda. E sente que está cansada, que muita coisa já foi para o buraco, inclusive o tempo. Mas ela se segura pois é a única coisa que ela conhece e sabe fazer desse mundo que ainda não é mundo para ela.

"Quantas vezes, (...), usamos espelho apenas como retrovisor para reter histórias alheias?
Nossas caras, tão deformadas, tão retocadas, tão disfarçadas, onde estão?

Onde as escondemos que não aparecem no espelho?
Sem a verdade que liberta, jamais estaremos livres de nós mesmos".

Delis Ortiz (jornalista)