segunda-feira, julho 19, 2010

Deus me proteja da Unimed

Cheguei na Unimed por volta de 11:30, passando mal, vi que os recepcionistas levaram várias fichas colocando nos escaninhos dos consultórios médicos. Primeiro eu vejo uma médica Barbie com um salto 15 num scarpin azul turquesa andando de um lado para o outro, mas atendendo a todos. Fora a minha ironia de que ela jamais conseguiria correr para atender alguém numa emergência com aquele salto todo, já que mal ela conseguia andar, eu comecei a desejar que ela fosse a minha médica quando eu vi outra médica, depois de meia hora, entrar no recinto e se dirigir a uma sala em que uma ficha já estava aguardando também há meia hora. A médica tinha um andar vagaroso, largado, cansado, andar de quem está de saco cheio da vida, quando eu vi o rosto e o cabelo saganhado* saquei que aquela médica estava, ainda, dormindo. E que estava com muita raiva de ter que cumprir sua tarefa. Lei de Murphy é Lei de Murphy e eu tenho atração a ela, quem esta dita saganhada chama? Euzinha. Quase eu me arrasto até a sala, imaginei eu loucamente gritando: Ela não!!! Ela não!!!! Mas mantive a classe e adentrei em seu ambiente pseudo estéril da posse do seu saber médico que iria me examinar. E descobri que ela era a médica psicanalista ortodoxa. Explico: os psicanalistas ortodoxos não falam com seus pacientes ou só o estritamente necessário. Entrei, tive que ir fechar a porta, pois ela já tinha sentado em sua cadeira (vejam: a sala é dela), e sentei à sua frente. Nem esperei um bom dia (não estava sendo mesmo), mas cheguei a esperar um: - o que você está sentindo? O que te traz aqui p....? O que aconteceu pra me acordares???? Algo pelo menos assim. Não... Eu me sentei, olhei pra ela, ela me olhou semi-acordada e pasmem: - (levantou a sobrancelha direita e depois franziu a testa). Com isso resolvi ser a paciente ideal e comecei a falar meus sintomas, ela foi anotando, anotando, sem me olhar, de repente ela pega um daqueles pauzinhos de picolé, chega perto e tenta enfiar na minha garganta. Óbvio que não conseguiu, nenhum médico consegue isso comigo pois tenho o reflexo de vomitar (e isso desde criança) todas as vezes que tentam ver a minha garganta com aquilo. Falei pra ela que eu tinha esse reflexo, ela deu um meio sorriso e disse: - não tem problema. Hã? Então, ela sentou e anotou, me digam: se não era necessário então pra quê?? Depois veio me auscultar (uma das minhas queixas era dor no pulmão). Disse que iria levantar a minha blusa e ficou lá, auscultando em vários lugares. Voltou pra mesa e anotou, anotou. Olhou pra minha cara e finalmente falou: - olha, não deu pra ver tua garganta e nem deu pra te auscultar direito, tive dificuldades, vou te passar um raio-x do tórax, e quando estiver pronto, você traz aqui pra eu ver. E pasmem novamente: sorriu.... Fiquei chocada... Enfim, fui tirar o raio-x e o técnico foi sensacional. Super bem atendida que até cheguei a pensar: - estou com sorte.

Voltei à sala e fui até a enfermagem, expliquei que a Dra. tinha me pedido para mostrar o raio-x, o enfermeiro pediu para ficar com ele, foi o meu erro. Depois de uns 15 minutos, ela aparece de novo no recinto, do mesmo jeito, mesmo andar, mesmo olhar, o cabelo oleoso e saganhado e puxa um papel e chama outra paciente. Quando sai, passa por mim, vai ao posto de enfermagem e some. Some! 15 minutos depois, eu, no posto de enfermagem: - vocês poderiam chamar a Dra? Ela pediu pra eu mostrar pra ela o raio-x que está ali ó! Resposta: ah tá!!! – Vocês não podem colocar no escaninho dela? - Não, ela não gosta que façam isso. – Mas então ou vocês deveriam falar pra ela ou ela teria que vir perguntar né? – ééé....Sentei e esperei novamente ...e muito...quando eu vejo uma médica que não era nem a Barbie e nem a psicanalista chegando e entrando na sala da minha médica, quase que eu impeço a passagem até que ela chama a primeira paciente. Realmente a Unimed é um show: essa era a médica radialista de vestibular, era idêntica a forma que ela chamava os nomes dos pacientes, só faltou a musiquinha e os parabéns. Ela também era muito rápida, enquanto eu me recuperava do choque (onde está então a minha médica?) ela já tinha atendido 05 pessoas e foi na sala de outro médico e pegou até uma ficha de paciente dele. Aí tenho uma fofoca, o outro médico chegou logo depois e disse: - você pegou a minha ficha que estava aqui? Ela disse: - eu atendi, eles misturam tudo (ela estava dizendo que os recepcionistas tinham misturado a ficha dele na dela e então ela atendeu), quero saber se eles ganham por produção. Depois disso, ela foi à enfermagem e rolou uma discussão de quantos ela tinha atendido e ela ainda passou um tempão lá provando isso para os enfermeiros. Um show à parte até que lembrei que já bastava, eu queria ser atendida e já sabia até então que o plantão tinha trocado e que a médica psicanalista tinha dado no pé sem informar o final da sessão. Fui lá e perguntei novamente aos enfermeiros: - é... ela já foi... – poxa, eu estou esperando há um tempão, falei pra vocês chamarem por ela e agora? Quem vai me atender? – ahhhh...aguarde... está aqui seu exame...pasmem, minha ficha era a última. – Eu estou por último??? Como assim??? Eu já entreguei isso aqui há um tempão!!! – é... hehe...não...não... está aqui. Desisti, me sentei e resolvi apelar pra Deus: - É, tenho que confiar em Deus, se ele me fez esperar assim é porque devo ser bem melhor atendida agora. Vamos ter fé e paciência, aprendizado. E esperei. Tive sorte, veio o médico que foi roubado na ficha pela radialista vestibulanda. E então ele olha meu raio-x e diz: - você está com uma secreção no pulmão.

- Sim, mas o que quer dizer isso?


- Olha, pode ser da garganta ou pode ser do pulmão mesmo.

- (hã???).

- Mas eu vou te passar um antibiótico

- Vai tirar a secreção?

- Vai. Você tem pressão alta?

- Às vezes quando fico muito tensa.

- Ah tá tudo bem, porque estou pensando em fazer um dispropan injetável, pode ser?

- (quem estudou medicina aqui???) – ok, pode passar.


- é injetável, pode ser?


- hã hã

- Também estou pensando em fazer um aerossol, pode ser?

- hã hã

- Então pronto. Na terça você volta aqui para pegar o seu raio-x e procure logo um pneumologista para fazer um acompanhamento, ok?

- ok

E lá fui eu tomar injeção nas nádegas (isso mesmo, voltei à infância) e fiz 15 minutos de aerossol, dei tchauzinho quando passei no posto de enfermagem e me benzi logo depois: - Que Deus me proteja da Unimed!





(* saganhada significa despenteada no interior do Maranhão.)


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