- Boa tarde anjinho!
- Boa tarde! Ai..ai...queria tanto um milho seu...
Ele sorriu um sorriso incompleto, fruto de suas andanças pela vida e respondeu:
- Ora anjinho, é pra já!
- Não, não...eu não tenho dinheiro...
Ele então lançou um olhar de cima a baixo, não precisava ser santo como ela. Olhou-a e viu um corpo roliço, jovem e gostoso.
- Você pode me pagar de outro jeito, santinha.
Ela, percebendo o olhar lascivo, olhou para o milho com a mesma intensidade, fome é sempre fome, não importa do quê. Sua boca entreaberta, cheia de saliva e desejo, percorreu sua língua pelos lábios rosa-bebê e suspirou, dizendo:
- Tudo bem.
Ele, apressando as preliminares, preparou com esmero aquele milho da salvação de sua alma.
Ao entregar o milho pra ela, ela disse:
- Me dê um milho maior, do mesmo tamanho do que você guarda dentro das calças.
Nada mais justo, pensou ela.
Então, ele deu sua medida, a medida de um macho. E quando, ao olhar a cara dela de espanto, ganhou o dia, o mês, a vida, pois sempre tinha sido motivo de escárnio por todas as mulheres que tinham passado por seu caminho. Aquela mulher na sua frente, tal qual um anjo anunciador, afortunou sua vida.
Então, ela recebeu o maior milho que ele tinha... com os olhos de desejo, deu um sorriso que, de longe, me pareceu tão infantil, que consegui ver a criança que ainda era.
* escrito também há muitos anos em homenagem a um filme.
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