segunda-feira, abril 16, 2007

O IRREVERSÍVEL

Estou a uns 5 minutos olhando para o teclado do computador com a barrinha piscando na tela. Não sei o que escrevo dentro de uma mente que pensa em escrever sobre tudo. Sobre o nada também. Me lembrei que hoje pensei em escrever sobre O Irreversível, na realidade acho que pensei nesse filme ontem. Quando estava atendendo um cliente observando ele falar de seu passado. O passado é irreversível. O tempo é irreversível. É um filme denso, mostra uma violência extremada, uma cena de estupro que no meio, tal qual criança, tapei meus olhos com minha mão entreaberta, que não evitou minha mórbida curiosidade de ver a cena mas pelo menos me deu a sensação de proteção. Os gritos lacinantes no meu ouvido por três dias. Os gritos e os sons da mulher estuprada não saiam da minha cabeça. Não pretendo ver o filme de novo. Alguns filmes são demais para o meu estômago, tanto o gastro quanto o mental. Mas vale a pena ver. É um filme que é feito de cenas temporalmente de trás pra frente. O que me deu a sensação de muita leveza no final, como se nada daquilo que os personagens presenciaram tivesse acontecido. Terminaram todos felizes na ignorância do que os aguardava no futuro. Um futuro de muita violência e dor. Sempre que vejo um filme fico pensando no que o autor quis passar para o público, qual a sacada dele. Não lembro da primeira frase do filme e da última (se eu não me engano) em que um personagem fala sobre o valor implacável do tempo. Mas fiquei pensando no título e no filme. O Irreversível! E me dei conta de que, apesar de todo o conteúdo denso, o autor talvez estivesse querendo falar sobre o tempo e da sua maior característica, da irreversibilidade. Damos um salto no desenvolvimento de nossa inteligência ao conseguirmos a reversibilidade do pensamento. Quanto dualidade, poder reverter o pensamento e ter que lidar com a irreversibilidade do tempo. Não poder voltar atrás para refazer. A vida anda... Não. O tempo faz a vida andar, é a carroça que a vida se escora. Seria tão bom se fosse igual o filme, nascêssemos velhos, já com todas as nossas dores vividas e vivêssemos em ordem decrescente de idade. Passaríamos por tudo de dor, de alegria, de desilusões, de coisas ruins e boas que trazem a maturidade e o crescimento e iríamos vivendo mas sem a memória do que passou. E sim, como uma borracha apagando tudo o que passou iríamos alcançando a ingenuidade de uma criança, sua docilidade, seu sorriso, até enfim, entrarmos no útero novamente para (idealmente) nos sentirmos seguros e protegidos novamente. Sonho com um sonho impossível. E o tempo continua irreversível. Só me resta viver.
27/03/2007

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