quarta-feira, junho 09, 2010

Amores à uma mãe (im)perfeita II

Tinha algo que me incomodava, mas só vim descobrir lá pelos meados da vida adulta... eu não podia chorar perto da mamãe. Todas as vezes que eu chorava ela fazia uma cara de tanta pena e de tanto sofrimento, que eu acabava achando que o sofrimento dela estava sendo maior do que o meu em me ver chorando, e parava, engolia o chôro. E depois comecei a evitar chorar na frente dela. E quando eu sofria me afastava de casa, chorava na casa de amigas e voltava já "bem" para casa.

Chorei pouquíssimas vezes na frente dela... principalmente depois de ter me tornado "dona do meu nariz"... e sempre falei nas minhas terapias que a mamãe não tinha como me dar suporte se eu sofresse, pois ela sofria mais do que eu...e assim acreditei por muito tempo...e assim me poupei por muito tempo também...

Até que chegou um momento que foi muito difícil, eu já namorava o T. há cinco anos e ele estava desempregado. Eu, apaixonada, com planos de casar, ficar com ele e ele recebe uma proposta do meu cunhado para trabalhar na filial da empresa dele em Macapá. Recebe o convite e aceita. E a viagem aconteceria até no máximo 15 dias após.

Quando ele veio me contar eu desabei... não tinha como demovê-lo da idéia. E eu, egoistamente tentei mesmo... fiz de tudo... e com uma semana entrei numa crise que eu só chorava o dia todo, tinha começado um estágio, eu larguei, tirei uma licença do trabalho e só chorava o dia inteiro. Fiquei mal mesmo, e para a minha grande surpresa, mamãe deu conta. Não só deu conta de me ver sofrer, como também me deu um suporte que eu nunca tinha imaginado que ela era capaz de dar.

E a partir de então eu soube, soube que poderia contar com ela para o resto de nossas vidas...

Quanto ao namorado, eu chorei, sofri, fiquei muito mal, e algo muito estranho aconteceu, ao lidar com o inevitável, no dia seguinte que ele embarcou, eu estava bem. Lutando por um novo estágio, trabalhando e sem derramar uma lágrima. Eu sou assim: o inevitável me dá resignação e acabo me conformando. Depois de 3 meses ele voltou... não sei o que significou pra ele essa viagem...para mim, a iminência da falta dele na minha vida, me deu um presente... o suporte da minha mãe...

4 desavergonhados:

Citadino Kane disse...

Era pra chorar mais vezes... Inclusive, na frente da mãe.
bjs
Pedro

Luciana Castelo Branco disse...

É verdade Pedro...mas quando eu descobri isso até que não me prendi mais..e quando vinha, deixava vir...
Beijos,
Lu

Eleonora disse...

Querida, mulher de sonhos, de determinações, mulher mil

Fiquei muito, muito feliz com essa tua idéia, iniciativa e execução de falar da tua mãe, da minha amada Lurdinha.

Da mãe imperfeita que todas somos para os filhos, da mãe que sabe amar vocês “do nosso jeito”, jeito que não é o ideal pra vocês mas é reconhecido como nosso jeito e por trás dele, reconhecido o nosso amor.

Estamos sempre nos enganando, não é minha amada sobrinha psicóloga? Nós que eu digo, é nós mães e vocês filhos.

Parabéns, querida, estás me emocionando e me permitindo te conhecer melhor. Amém!

No fundo, sem precisar raspar o tacho, a Lurdinha sempre te admirou e sentiu em ti um suporte. Engraçado, né?Ela dava e precisava de suporte. E não negava, nem uma coisa nem outra.

Te amo.

Tia Nonora

Luciana Castelo Branco disse...

Oi minha tia linda,

Escrever pra mim sempre foi uma terapia, e preciso falar dela, pra mim mesmo. Escrever, escrever e como diz um amigo meu, alguma coisa está mexendo no fundo... isso é bom...

Todos somos imperfeitos, mães, filhos, e mães e filhos nas suas relações... ai ai... o que seria de nós sem as formas de se comunicar? Mas é a nossa salvação e nossa perdição... unido com nossas projeções e nossas imaginações, imaginamos o que o outro está pensando, tomamos como verdade e não nos comunicamos ou nos comunicamos a partir desse ponto, o que dá ensejo há mtos mal entendidos... Ainda bem que quanto a mamãe, eu conseguia sempre conversar com ela... e esclarecer tudo que eu achava que ficava desentendido para mim... a nossa relação ficou cada vez melhor com o passar dos anos...

O jeito de amar é outro porém né? Todos amamos como somos e não podemos fugir isso, e ao mesmo tempo para nos sentirmos amadas temos que desapegar das expectativas que geramos e olhar para o que o outro pode nos dar. Isso é genuíno.

A tua última frase falando dela nesse teu email, não me permite nenhum comentário, pois é a mais pura verdade. Assim foi, assim seja e assim será melhor ainda!

um beijo grande, te amo!
Lu