quinta-feira, janeiro 03, 2008

7:00h da manhã. O despertador do celular toca. Ela abre o fecha o flip, forma mais rápida de ativar o "soneca". 8 minutos a mais de sono. 8? Ela já tentou colocar 10 minutos. Não conseguiu. Desde que recebeu esse celular sempre fica intrigada com os 8 minutos. Porque não 10? Ela ganhava mais 2. E voltou a fechar os olhos. Tocou de novo. Tem certeza que o celular estava enganando-a. Já? Abriu os olhos e a primeira coisa que viu foi o teto branco e pálido em cima dos seus olhos. Tela em branco. Tédio.
Mais um dia em que ela tem que se vestir dela mesma, vestir um sorriso, vestir expressões e ir para o mundo se relacionar. Trabalho. Há muito seu trabalho perdeu o viço. O viço de uma adolescente. Há muito em que ela oscila entre suportar um dia a mais e não suportar mais nem levantar da cama. Há muito também que esses dois estados são intercalados sob variados aspectos de humor em que ela abstrai da vida que ela escolheu e sonha com outras vidas. E como uma boneca de corda, consegue um pouco mais de fôlego para o dia seguinte.
Abriu os olhos, olhou a palidez do teto, reflexo de sua vida e pensou: mais um dia. Um dia em que ela chegará atrasada mais uma vez, um dia em que ela se arrastará até o elevador, do elevador para o carro, e tal qual uma autômata segue dirigindo até o local. Lá sai do carro, veste o seu melhor e mais enganador sorriso e vai adiante despejando bom dia aos outros que passam por ela. Engana bem. Só não consegue se enganar. Ela tentava. Tentava sempre, agora não tem mais forças para isso. Ela não se engana mais. Mas também não sabe mais o que é a sua verdade. O que será dela? O que ela quer? Pelo que deve continuar? Pelo que deve viver?
Ela vai pesada na frente do computador e busca um mundo que não é o que ela está. Busca mas também não satisfaz. Ela sabe. Não dá mais pra viajar. Não dá mais pra fingir. Nada mais pode servir de trampolim para a ausência da realidade na fantasia, na esperança. A vida é o que é. O dia a dia é o que é. Tal como o teto: pálido, branco, sem movimento.
Ela se estranha. Existem duas. A fantasiada. Que veste roupas de acordo com a ocasião. Roupas muitas vezes de 1,99. Outras sofisticadas. Que ela até acredita. Mas sabe que não passa de um baile de máscaras.
E então ela descobre, nesse dia, uma forma de se isolar. Vai para uma sala isolada mas deixa a porta aberta. E liga o computador.
Na lentidão espera e olha para o lado.
Então um homem vem e diz: um doce pelos teus pensamentos.
E a desperta, salva dela mesma.
(Em 30/11/2007)

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