quarta-feira, março 21, 2007

AQUI JAZ...

De repente ela estava em um espiral, movimentando-se em ordem descendente, vendo o futuro ficar mais distante e intangível. O presente não existia, e o passado não era visitado ou revisitado nas fugas das horas. Ela inexistia. Estava em um espiral, entrando em círculos em um lugar obscuro. Um lugar-comum na vida-comum, mas que somente pra ela tinha significado: depressão.
Levantava-se todos os dias no mesmo horário para cumprir sua (in)existência. Como uma autômata ia ao banheiro e olhava-se no espelho se procurando. Não se encontrava. Sabia que não estava ali e sim no seu espiral, dentro e dando voltas no lugar.
O mundo passava por ela e ela não passava por ele. Estava ali, parada. Só tinha consciência de que algo não ia bem na altura do estômago e no meio dos seios. Uma força, uma opressão, uma agulhada, um sufocamento e então vinha o nada. Nada. Nada. Nada.
Não era ela, era outra. Uma outra que não era, que estava sendo. Morta em vida. Todos os dias se visitava no túmulo. Não conseguia ler sua lápide. Tentava, esfregava, soprava, mas não conseguia ler além do “Aqui jaz”...

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