domingo, maio 08, 2011

Minhas 03 mulheres

Minha vida sempre foi e é permeada de mulheres com presença na vida e fortes. Não tenho como não aprender com elas todos os dias. São minhas irmãs, minhas primas, minhas tias, minhas amigas. Todas elas, sem exceção, marcam um canto da minha existência: por uma característica que eu adquiri, por um olhar que eu desvelei, por um sentimento que eu desenvolvi... minha vida é permeada por essas mulheres incríveis. Delas todas, 03 não estão mais aqui comigo. E deixaram uma ausência de forma muito presente, pois foram mulheres que preencheram a minha vida em diversos momentos e me deram o sentido da existência. Essas três mulheres, fortes, foram, em vida: a minha Avó Marisanta, a minha Madrinha Elizabeth e a minha Mãe Lourdinha. Elas me deram muito. Marcaram minha vida para sempre. Com elas aprendi muitos caminhos, muitas histórias... Com elas eu vivi momentos que eu serei eternamente grata.
Minha vó era uma mulher forte. Desde cedo passou por perdas inimagináveis à alguns. Lembro que, quando eu era menor, eu ficava contabilizando mentalmente todos os parentes que ela tinha perdido: perdeu os pais, depois o marido (do qual ficou viúva o resto da vida), perdeu um filho, depois irmãos, perdeu neto... vovó experimentou quase todas as perdas... mas mesmo assim ela não esquecia de si mesma e não se entregava a dor. Era uma mulher vaidosa, cheia de amigas, inteligente, organizada. Ela foi morar com a gente quando a mamãe se separou, foi ajudar sua filha na nova etapa de sua vida. E acabou que ajudou a nos criar. Eu dormi muitos anos ao lado da minha vó e por muitos anos, vovó deixava eu ficar de luz acesa, mesmo quando ela queria dormir, pois eu queria ler... ela sabia, do jeito dela, como estimular o que achava certo.
Ela me ensinou a bordar e com isso, a ter mais paciência para as coisas, ponto a ponto, irem sendo construídas, para que o bordado tomasse a forma perfeita que lhe cabia e com isso, me ensinou a persistir. Vovó me levava em suas reuniões de bordados, onde tive contato com freiras, com pessoas que bordavam para vender e assim poder doar para trabalhos de caridade. Desde cedo, ela me ensinou a generosidade e dar do próprio trabalho.
Vovó era organizada, queria ter herdado mais da sua organização, mas uma coisa eu herdei...lembro até hoje de todas as vezes em que eu criança, com muita vontade de comer gelatina, pedia dinheiro pra ir comprar e ela tirava de seu guarda-roupa uma bolsinha, com um envelope dentro e com toda a calma, tirava o dinheiro, escrevia atrás do envelope o valor e pra que era, e fazia suas contas. Eu, atualmente, me pego colocando dinheiro em envelope numa bolsa dento do meu guarda roupa. Igual. Vovó também me ensinou a dar valor a religiosidade e a força de ter fé. Lembro, até hoje, que quando morávamos no Banna e dormíamos juntos, ela me ensinou também a admirar a lua. Dormíamos de janela aberta e quando era noite de lua cheia ela me chamava a atenção para a beleza da lua e sua luz entrando em nosso quarto. Ela me ensinou a poesia do olhar...
Minha madrinha era uma mulher forte. Como não ser diferente. Mãe de 04 filhos de fato, porém mãe de muitos outros filhos que ela colocava debaixo de seus braços. Mãe também de minha mãe. Mãe das minhas irmãs. Minha mãe. Ela exalava maternidade. Ela exalava cuidado e atenção. Ela não era uma pessoa melosa...ela sabia dar carinho pelo olhar e principalmente pelos gestos. Minha madrinha, abriu as portas de sua casa assim que minha mãe se separou e fomos morar com ela. Sua casa era cheia de vida. Ali, aprendi, a me deixar levar pela alegria, pela vivacidade, por uma casa constantemente em movimento. 
Generosidade talvez fosse seu maior movimento de vida, o que aprendi uma terça parte somente. Minha madrinha tinha um jeito todo peculiar, falava suas verdades sem mandar algum recado, era sincera, mesmo quando tinha que chamar a atenção. Sincera, séria, brigava, falava, para logo depois, abrir um sorriso que confortava qualquer um de nós.
Presença marcante na minha vida desde cedo, eu sempre disse à mamãe que tive sorte dela ter escolhido a Bebeca pra ser minha dinda. Ela era louca por mim, eu sei... e eu sinto até hoje, que não dei tanto à ela como ela me deu. Mas acho que esse sentimento é natural quando se trata da relação filial que tivemos. De qualquer forma ela nunca pedia mais. Ela aproveitava a vida com o que tinha. 
Ela me ensinou a resistir a dor. Dinda viveu com dores por muitos anos. Sempre trazia um sorriso, sempre se movimentou, mesmo na cadeira de rodas, ela ia para o shopping, ela viajava com sua família, fazia compras, nos visitava... ela nunca se entregou à dor. Acho que Deus pensou realmente que não seria o caminho da dor que iria tirá-la dessa vida quando fosse a hora. E realmente não foi. A dor não venceu. Ela venceu a dor e deixou uma importante lição. 
Minha mãe era uma mulher forte. Demorei para decifrá-la. Minha mãe tinha uma vivacidade que sofreu grandes abalos, mas era tão grande, que mesmo assim, ela ainda mostrava sua força no final. Uma mulher corajosa para enfrentar a vida. Uma mulher que aprendeu coisas da vida fora do tempo e com atraso e que, mesmo assim, conseguiu se equiparar ao ritmo da vida. Ela me ensinou a dar valor ao trabalho. Ela me ensinou a gostar de aprender e de ensinar. Minha mãe era uma professora nata, dava suas lições com brilho no olhar, uma imposição na voz que eram marcantes. Muitas vezes eu apontava o tom professoril, quando ela era tomada por uma energia e começava a me explicar conceitos dos quais ela estudava. Minha mãe me ensinou a me transformar.
Minha mãe, já disse isso antes, me ensinou a ser mais humana ao mostrar suas imperfeições. Minha mãe também me ensinou a ser generosa, ela era um exemplo disso. Morei com ela durante 38 anos. Ela me permitiu crescer ao seu lado e me permitiu aceitar e rejeitar partes suas para que desenvolvesse a minha crítica. Talvez ela nem soubesse o que estava fazendo, mas a forma como ela se entregou a nossa relação me deixou muitas lições. Minha mãe nunca foi autoritária, e com isso me ensinou o valor de reconhecer uma autoridade moral e nunca uma autoridade fabricada pelo poder do mundo. Isso também abriu portas para o questionamento do que, realmente, nesse mundo tem valor para mim. Eu poderia ficar aqui o dia todo falando de tudo que eu aprendi dela e de minha vó e da minha Dinda, mas, pensando bem, ainda tem uma lição que elas me ensinaram e talvez a maior delas, que foi sobre o amor. Foi me ensinar que o amor não tem um jeito específico e generalista de ser...que as pessoas amam, cada uma do seu jeito, que reconhecer esse amor é uma dádiva e que não existem regras e nem momentos certos para amar e que o amor pode ser generoso e fartamente distribuído, ele nunca fica escasso.  
Minhas 03 mulheres: fortes, generosas, justas, amorosas. Agradeço à Deus a oportunidade delas terem me dado colo, amor, amizade e principalmente, cuidado.
Um Feliz Dia das Mães Vó!
Um Feliz Dia das Mães Dinda!
Um Feliz Dia das Mães Mamãe!
Esse é o meu presente para vocês!

3 desavergonhados:

Marisanta disse...

Minha prima amada,

Não resisti em deixar para amanhã a leitura do "presentinho" e a fiz agora (19:37). Estou em prantos, um choro de saudade, mas também com o mesmo sentimento de gratidão por ter convivido com elas e ter aprendido tantas coisas, uma no momento da convivência outras só mais tarde e que perduram até hoje.

Obrigada prima, do fundo do meu coração, me deste um belo presente no dia das Mães, vou levá-lo comigo e espalhá-lo para que as pessoas conheçam a beleza da tua sensibilidade ao escrever coisas do teu coração. Te amo!
Beijos, Marisanta

Daniela Chamma Souza disse...

Queridas Lulu, Pat e Andrea

Que lindo presente para 3 mulheres tão importantes. Fiquei relembrando como a D. Marisanta era presente, participativa, vaidosa, organizada e engraçada ao às vezes puxar as orelhas de vcs. O quanto ela dava vida ao apartamento da Mundurucus e o quanto ela cuidava de cada uma de vcs: Andrea, Luciana e Patricia. Da tia Lourdinha lembro das gargalhadas e das coisas inesperadas que ela falava com a maior naturalidade e que a gente ouvia e depois comentava, que só ela para dizer aquilo. A saudade existe porque foram muitos bons momentos.... E o que seria da vida sem eles?

Adoro vcs.

Um bj da desconectada, mas sempre presente de coração.

Dani

Adorei teu blog Lulu

Eleonora Passarinho disse...

Amadica

Lindas e verdadeiras palavras. Bela homenagem às três, escrita logo pela manhã. Assim como tens o benefício do dom artístico estético, também tens para escrever. Parabéns, garota! Beijos.

Te amo.

Tia/Mami