sexta-feira, março 05, 2010

Ayla



Quando criança, Ayla, que não entendia nada do mundo e nem seus pais, pois o mundo estava apenas começando e viviam mais como animais do que como conceituamos humanos hoje, não sabia de nada. Ayla apenas vivia. E um dia, a terra se abriu e engoliu seus pais. Ela presenciou aquilo e não entendeu nada. Apenas lhe veio o terror e a tristeza de não ter mais os pais por perto, de se perceber sozinha e de que o mundo poderia ser tão inseguro, mas tão inseguro, sem solidez, que o chão poderia se abrir a qualquer momento e sugá-la também. Assim começa a sua saga. Na pré-história isso aconteceu. Antes da história.
Na história isso ainda acontece com Ayla. Ela sente que seu chão abriu há muito tempo e que ela se segura em uma corda. E sente que está cansada, que muita coisa já foi para o buraco, inclusive o tempo. Mas ela se segura pois é a única coisa que ela conhece e sabe fazer desse mundo que ainda não é mundo para ela.

5 desavergonhados:

Lia Noronha &Silvio Spersivo disse...

Abraços carinhosos rpa ti.

Prometeu Liberto disse...

Não há como esquecer a perda
melhorar
mudar
ser forte
sem mais perda.

A perda deve ser sentida,
chorada, sofrida...

E a vida permanece a ser vivida, porém,
um dia após o outro.

Dos que aqui viveram e nos ensinaram, compartilharam,
ficam memórias, lembranças, cheiros, saudades.

Acho que é uma escolha consentida
a de vir ao mundo e conviver com estes parceiros.

Acho que é missão, e remissão.

E isso torna a perda em conclusão de mais um ciclo, não o único,
sendo o fim conceito nosso, limitado como nós.

Todos nós nos juntaremos, e nos perderemos, outras vezes.

Não deixa de doer, mas torna a saudade remediável...

Prometeu Liberto disse...

Minha amiga,

Se lhe for possível, além do choro, agradeça também a esta parceira que se foi pelos seus feitos.

A jornada dela também é nova.

Permita que ela a percorra serenamente...

Cristina Loureiro dos Santos disse...

Engraçado... Conheço poucas pessoas que tenham lido O Clã do Urso das Cavernas e as sequelas. São livros belíssimos, em que há cenas descritas com uma enorme sensibilidade. Eu adorei.

Porque escolheu este trecho? Sente-se como Ayla? O chão engoliu o seu mundo?

Um abraço,
Cristina

Luciana Castelo Branco disse...

Oi Cristina,
Estive ausente durante muito tempo desse espaço. Hoje, depois de escrever umas coisinhas resolvi reler outras. E me deparei com esse texto e o teu comentário. Eu amo esses livros, infelizmente ainda não consegui ler todos, mas estou com o projeto de reler... Vc me perguntou pq escolhi este trecho. Então, quando escolhi foi pq me impactou muito essa parte do livro, é a parte inicial da história e fiquei muito sensibilizado com a menina Ayla que viu a terra engolindo seus pais e ficou sozinha no mundo. Não sabia eu, naquele momento, que minha mãe morreria 22 dias depois desse texto que escrevi. E aí sim, um buraco se abriu tb pra mim. Então, olhando pra esse texto hj vejo o qto ele parece com alguns momentos que eu vivi e que ainda vivo (hj com menor intensidade) no meu luto pela minha mãe. Então, te agradeço pela pergunta...mesmo que tenha quase um ano, me fez refletir e me fez bem te responder.
Beijos,
Luciana